Olá, 

O missionário Gustav Adolf Bringsken chegou a Vila Bela da Santíssima Trindade – MT, em setembro de 1955, com 21 anos, acompanhado de sua esposa e de um filho de 8 meses, decidindo se estabelecer nesta cidade. Guiado por Deus, ele iniciou um trabalho missionário, dedicando sua vida e a de sua família aos indígenas e aos demais moradores dessa longínqua localidade.

 

Naquela época, o acesso à cidade era extremamente difícil, especialmente no período das chuvas. As pessoas só conseguem viajar de avião, com voos semanais realizados pela empresa Cruzeiro do Sul, utilizando o avião DC3. Por terra, o trecho de 80 km até a cidade mais próxima, Pontes e Lacerda, levava dias para ser percorrido devido aos atoleiros. Caminhões com mercadorias demoraram até um mês para concluir essa trajetória.

 

Nesse período, o missionário Gustav, juntamente com alguns voluntários, realizou diversas viagens às aldeias indígenas da região, com o objetivo de estabelecer contato com os indígenas e cumprir sua missão de levar o evangelho até eles. Durante uma dessas viagens, que duraram meses e foram realizadas por barco ou lombo de boi, sofreram dificuldades para prestar socorro, tratamento de saúde e levar alimentos, o desafio teve uma experiência marcante. Enquanto seu embarque estava preso em taropes sob as águas do rio, um avião sobrevoou o local, e ele sentiu que Deus o estava chamando para realizar sua missão com o auxílio de uma aeronave.

 

Em 1961, após sete anos de árduo trabalho em Vila Bela, sendo limitado pela distância e pelas dificuldades, seus mantenedores holandeses organizaram sua ida para Holanda, onde ele passou um tempo visitando familiares e fortalecendo os contatos. Nesse período, um avião Cessna 170B de quatro lugares foi doado e enviado ao Brasil em um contêiner. Gustav tirou seu brevê de piloto em Curitiba, em aproximadamente um ano, enquanto aguardava a liberação do avião pela alfandega.

 

Logo após, ele começou a voar para o interior, utilizando o avião para emergências e contatos com as cidades de Cáceres e Cuiabá. Diversas vezes, doentes, principalmente indígenas, foram transportados para essas cidades. No entanto, muitas vezes, ao chegarem, os pacientes não foram atendidos devido à falta de recursos financeiros, o que resultou, em alguns casos, nenhum óbito por falta de tratamento adequado. Essa situação frustrava o pastor, que tentava levar os pacientes aos hospitais.

 

Foi nesse contexto que surgiu em seu coração o desejo de construir um hospital em Vila Bela para atender a população da região, especialmente as comunidades indígenas. Após muita oração, a diretoria da missão na Holanda decidiu compartilhar esse sonho. Entrei em contato com a organização ICCO, que presta assistência social a diversas ONGs, para avaliar a visão do projeto. Uma comissão de dois representantes da ICCO visitou Vila Bela em 1969 para verificar a necessidade de um hospital. Ao conversarem com representantes da Santa Casa de Misericórdia de Cáceres, foram informados de que já havia um hospital na região, o que levou à negativa inicial da ajuda.

 

No entanto, a missão conseguiu provar que tanto os indígenas quanto os pobres não eram atendidos nesses hospitais. Numa noite, o responsável pela comissão da ICCO, na Holanda, ficou inquieto e decidiu reavaliar a decisão. Anos depois, em meados da década de 1970, foi inaugurada uma clínica (posto de saúde), embora nos primeiros anos de 1980 o atendimento tenha sido intermitente devido à falta de profissionais da saúde.

 

O Hospital Evangélico de Mato Grosso (HEMT) foi inaugurado em 1981, passando a atender a comunidade de forma contínua, apesar das adversidades e dificuldades financeiras. Mesmo com as doações recebidas da Holanda, que já cessaram há vários anos, o hospital contou com profissionais de saúde holandeses para combater epidemias, a miséria e a fome. A partir de 2012, o hospital firmou um contrato com o Município de Vila Bela da Santíssima Trindade para gerenciar exclusivamente a unidade de Pronto Atendimento de Urgências e Emergências, funcionando 24 horas por dia com uma equipe médica, técnicos de enfermagem, enfermeiros e uma equipe multiprofissional completa, atendendo também comunidades indígenas de forma aberta.

 

O hospital realiza internações clínicas e cirúrgicas de média e alta complexidade, além de oferecer serviços de diagnóstico por imagem, como eletrocardiogramas com laudo, raios-X e ultrassonografias. Equipado com seis leitos de semi-UTI, ventiladores mecânicos adultos e pediátricos, monitores cardíacos e outros equipamentos, o hospital preza pela qualidade no atendimento aos pacientes do SUS. Hoje, o HEMT conta com 63 leitos, subdivididos em maternidade e outras áreas, atendendo indígenas, chiquitanos, bolivianos, fazendeiros e moradores locais e de municípios vizinhos.

 

O Hospital Evangélico de Mato Grosso, construído com amor, dignidade e respeito, é um legado do inesquecível pastor Gustav Adolf Bringsken. O sonho do pastor foi sempre claro: o hospital seria um local de atendimento prioritário para os indígenas, um povo com o qual ele se preocupava profundamente. Portanto, a construção deste hospital representa não apenas um projeto inovador, mas um símbolo de respeito pela saúde, costumes e cultura dos nossos irmãos indígenas, que enfrentam discriminação em outros hospitais.

 

Nossa equipe de enfermagem, presente desde a construção do hospital, acumulou uma vasta experiência no cuidado à saúde dos indígenas, garantindo que o legado do pastor Gustav continue vivo e eficaz.
 
Com uma estrutura moderna e equipada, nossa unidade de saúde opera 24 horas por dia, contando com uma equipe de médicos especializados em diversas áreas, um laboratório próprio, Tomógrafo, Raio-x, Ultrassom e outros equipamentos de última geração. Essa infraestrutura nos permite realizar atendimentos de média e alta complexidade, muitas vezes evitando a necessidade de transferências para hospitais distantes, garantindo assim, agilidade e conforto aos nossos pacientes.

Entendemos que a saúde vai além do tratamento médico; ela também envolve acolhimento, respeito e um olhar atento às necessidades de cada indivíduo. Por isso, ao longo desses anos, nos esforçamos para construir um ambiente onde cada paciente seja tratado com dignidade, recebendo o cuidado e a atenção que merece.

Nosso hospital é mantido principalmente por doações, o que torna o apoio da comunidade e de parceiros essencial para a continuidade dos nossos serviços. Continuamos trabalhando arduamente para garantir que a população de Vila Bela da Santíssima Trindade e região tenha acesso a um atendimento médico de excelência, mantendo viva nossa missão de cuidar com amor e dedicação daqueles que mais precisam.